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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Guerreira - graças à minha família querida.

Resolvi escrever pois alguns amigos sabem outros não.
Em Julho de 1994 estava apresentando uma peça na Mostra de peças curtas de Santo André, no Teatro Carlos Gomes, quando no ensaio geral dei um giro e não consegui controlar meu equilíbrio e cai. para não acontecer o mesmo na hora que o juri estaria julgando evitei este movimento e consegui terminar a peça, porém sentia um forte formigamento nos pés.
Ao sair de cena meus joelhos travaram. Meu marido imediatamente me colocou no carro e fomos para casa, pois talvez o stress da estréia, somado ao cansaço seriam as causas disto.
Na manhã seguinte já não conseguia segurar minha filhinha com apenas 3 meses para amamentá-la.
Fomos em 7 médicos diferentes das mais variadas especializações e todos davam o mesmo diagnóstico.
Depressão pós parto seguida de stress pela nova situação ( casamento + maternidade).
Sabia e sentia que não era isso e que meu corpo estava me dando avisos, afinal eu professora de expressão corporal com 10 anos de experiência sabia muito bem o que meu corpo me indicava.
A situação só piorava e eu já não mais andava, minha língua enrolava e meus movimentos eram todos distorcidos, pois quando chegava próxima à uma cadeira, não conseguia sentar, e quando estava andando caia pois os joelhos dobravam involuntariamente.
Nossa rotina era essa: Meu marido me pegava no colo me colocava sentada no carro pegava nossa filhotinha, colocava-a no moisés e íamos todos para a casa de minha mãe, onde meu pai cuidava da minha filhota e minha mãe de mim, pois não fazia mais nada sozinha.
Os remédios que me receitaram de na da adiantavam.
Foi quando lembramos de uma médico muito amigo da família. Fomos até ele e imediatamente após me ver cair em seu consultório disse:
"O problema é neurológico e tomara que não seja o que estou pensando".
Vou encaminhá-la para um colega neurologista e ele dará o diagnóstico, mas antes tome essa injeção.
Saimos dali fomos à famrácia, tomei a injeção e fomos direto ao neurologista.
Em dois simples exames ele diagnosticou:
"- Sindrome de Guillhem Barrèt ou poliradicuoneurite."
Trata-se de um virus que no meu caso se alojou na coluna e bloqueava as mensagens enviadas ao cérebro, o que fazia com que eu sentasse na hora errada e não conseguisse sentar quanado necessário.
Foi um longo tratamento com intermináveis injeções e comprimidos e muito.... muito exercício de fisioterapia.
Quando você que estiver lendo pensar muito exercício, imagine um nº, pois o meu era bem maior.
Minha família me ajudou muito na minha recuperação.
Meu marido me carregou muito no colo e cuidou muito de mim, me dava comida na boca, me levava para onde fosse necessário e muitas vezes as situações eram tão deseperadoras que caíamos na risada, principalmente quando eu caia.
Uma vez a família veio almoçar em casa e á tarde começou a chover então meu marido resolveu levar meus pais para casa.
Me colocou sentada no sofá e disse :" Não saia dai que volto logo".
Fiquei quieta, num certo momento ouvi a campainha e achei que ele havia esquecido a chave, devagar virei-me no sofá para alcançar a porta que era bem perto, mas não percebi que minhas pernas escorregaram e cai, exatamente atrás da porta. Quando ele chegou não conseguia abrir a porta por que eu estava atrás dela. E eu ria e dizia: "Não consigo sair daqui, não consigo me mexer." - coitado, ele teve que pular o muro da casa da vizinha, subir na parte de trás de nossa casa para conseguir entrar pela porta da cozinha que por sorte estava aberta.
Eram situações tristes mas que transformavamos em alegres e divertidas.
Minha mãe e meu pai cuidava de mim durante o dia e principalmente da minha filhinha.
Minha irmã mais velha e meu irmão, trabalhavam mas quandko podiam sempre estavam à disposição.
A grande força que recebi foi de minha irmã mais nova, que além de me levar na fisioterapia todos os dias ainda repetia comigo a sessão à tarde.
Quando disse lá em cima que eram muitos exercícios eram exatamente 1200 por período.
Eu ficava na clínica 2 horas com um fiosioterapêuta ao meu lado só comigo me ajudando e me ensinando novamente a me movimentar.
Pra vocês terem uma idéia funcionava assim.
Eu chegava de andador sendo conduzido pela minha irmã pois não tinha forças para levantá-lo do chão para poder caminhar.
Deitava no chão de barriga para cima, em cima de um grande tapete. O exercício era simples, tinha que cruzar a perna esquerda em cima da direita para poder girar o corpo e ficar de bruços.
Sem exagero nenhum levei 15 dias para conseguir fazer este movimento.
A linha a seguir era:
1º) reaprender a ficar de bruços
2º) reaprender a engatinhar
3º) reaprender a ficar de joelhos
4º)reaprender a ficar em pé ( equilíbrio)
5º) reaprender a andar( sem auxílio do andador)
6º) e último o mais difícil e mais traumatizante - reaprender a pular corda.
Com muito custo, muita dor e sofrimento, passei por todas as etapas .
A única coisa que me fazia pensar em não desistir era saber que tinha um "ser pequenininho" que precisava muito de mim.
Foram longos 6 meses e com muita força de vontade, fé, e principalmente ajuda das pessoas queridas que Deus colocou em minha vida que sobrevivi.
6 meses depois já estava dando aulas de expressão corporal novamente.
Sequelas? Só meu sistema nervoso que ficou mais agitado, alguns movimentos rápidos com o lado esquerdo.
Lição: A vida tem que ser vivida por completo e com muita alegria. Pois Deus nos dá espinhos , cabe a cada um pegar a ferramenta certa para extraí-los e chegar à beleza da rosa.

Um comentário:

  1. Ah! esqueci de mencionar que a 1ª injeção que tomei salvou minha vida, pois o virus ia subindo e , ou me daria uma parada respiratória ou parada cardíaca.

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